Sabe o que é estranho da morte? Eu falo e ele não responde, eu grito e ele não me ouve, eu brigo, faço birra, bato perna, faço piada, rio e choro... Sozinha.
Me lembro chegar no enterro e olhar aquela multidão de pessoas que já estavam lá... Eu não sabia o que fazer, para onde ir, para onde olhar, com quem falar.. Minhas pernas estavam bambas, meu corpo tremia, minha mente confusa, eu via tudo girar, as lagrimas escorriam sem eu perceber, sentia que ia desmaiar antes mesmo de chegar perto. Primeiro avistei o caixão do seu tio Caio, e me deu um alivio perceber que, apesar de sem vida, ele ainda estava lindo e perfeito, mas não me aproximei, olhei para o outro lado procurando seu pai, e ele estava ali bem ao lado de seu tio. Lindo como sempre. Fiquei parada olhando seu corpo inerte, sem vida, eu só queria gritar, sumir, acordar daquele pesadelo... Eu olhava seus avós chorando, olhando para os corpos sem vida de seus dois filhos, parecia surreal demais. Por que meu Deus? Muitas pessoas me abraçavam e tentavam me consolar, mas para mim aquilo que estava acontecendo não era real, eu não conseguia aceitar que seu pai jamais voltaria a abrir os olhos.
O ironico é que ele estava lindo, com um rosto sereno, só faltava aquele sorrisão. Eu queria um abraço quente, um beijo apaixonado... Mas nunca mais os teria.
Eu estava sem chão. Já tinha ouvido essa expressão antes, várias garotas da minha idade usam quando terminam um namoro. Nesse momento fiquei com raiva de todas elas por usarem expressões tão fortes em situações tão banais. Eu sim estava perdida, nunca mais voltaria a ver o meu amor com vida.
Eu olhava ao redor para os rostos daquelas pessoas chorando, mas ninguém sentia uma dor parecida com a minha. Eu olhava procurando que alguém me dissesse que era tudo uma brincadeira de mau gosto. Eu olhava para seus avós, aquela família destruída, e me sentia pior ainda... Meu filho, nenhum pai/ mãe é preparado para enterrar seu filho, muito menos dois.
Eu estava enterrando ali uma parte de mim que me foi arrancada bruscamente, sem nenhum aviso, pedido de licença, sem nenhuma despedida.
Lembro de depois chegar em casa e não ter a mínima noção do que fazer, sentia um vazio inexplicável, não pensava em outra coisa, não conseguia ver tv, nem abrir o computador, nem ler, muito menos ouvir música... Passei algum tempo sem conseguir ouvir música. Passei também alguns dias sem conseguir pregar o olho. Ainda passo noites assim.
Os dias passam e a gente acha que o vazio vai diminuir... Mas não diminui, a gente só se acostuma com a nova rotina, mas ainda existe um buraco gigante dentro de mim. E não é aquele tipo de buraco de quando a gente muda de país, ou termina um namoro, ou vai morar sozinho. É um buraco que é real, é o vazio que a morte deixa na gente e só nos resta aceitar.
A passagem de Ciro na sua vida foi predestinada a ser marcante... Infelizmente foi passageira nesse plano terrestre. Mas, com certeza, Deus e sua infinita bondade não terá a atitude má de deixar tudo isso acabar. Eu acredito muito em planos/mundos paralelos e, quando encontramos essa felicidade e amor plenos, para mim, significa que tenho essa mesma pessoa em um outro mundo e então, fique feliz, que em outro mundo você e ele se pertencem em corpo, hoje, infelizmente, você só o tem em alma, mas futuramente, o corpo e a alma de vocês estarão para sempre juntos. Espero que esse vazio se transforme em amor para o seu filho, fruto desse amor tão lindo que, com certeza, será uma criança muito iluminada. Peço para que seus caminhos sejam guiados da melhor forma possível e que toda essa dor se torne saudades de vocês.
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