O sorriso mais sincero

Me lembro quando seu pai vinha me buscar todos os dias, sempre abria um sorrisão lindo e contagiante que só ele tinha. Não tinha como eu não sorrir junto. Era o sorriso mais sincero que tinha visto. É curioso como só um sorriso podia despertar tantos sentimentos, eu me apaixonei primeiramente pelo sorriso do seu pai. E também me apaixonei por como ele conseguia me fazer sorrir, tão naturalmente.

Ele vinha me buscar e me mandava descer enquanto me esperava fumando um cigarro e eu me recusava a beija-lo por causa do cheiro... Com o tempo ele já não me esperava com um cigarro, fumava antes e me esperava com um cheirinho de bala para disfarçar. Depois que descobrimos que você estava a caminho, ele vinha me buscar com um sorriso maior ainda, todos os dias, olhava pra mim com muito carinho e cuidado... Eu estava me sentindo feia nesse período da gravidez, enjoada, de mau humor.. Ele fazia de tudo para que eu me sentisse melhor, dizia mil vezes como eu era a grávida mais linda do mundo, mostrava minha barriga para todos, pena que ele não pôde ver ela crescer.

Um dos nossos últimos momentos juntos eu estava saindo da faculdade e liguei triste pedindo para ele me buscar porque só ele me animava. Seu pai saiu do trabalho, pediu o carro emprestado a seu tio Caio, e fomos almoçar em sua casa. Foi um dia simples, mas que me fez um bem danado. Lembro que quando eu estava voltando para casa, com o astral lá em cima (o que não estava sendo muito comum nos últimos tempos), fiz uma gracinha imitando sua forma de falar e ele se divertiu muito, me disse que eu era engraçada. Nesse momento eu percebi que eu já não estava sendo mais tão divertida como no começo, só reclamava, e uma pequena gracinha me fez relembrar como éramos antes. Queria nunca ter sido rabugenta afinal ele se apaixonou pela Marcella alegre. Se eu soubesse que nosso tempo seria tão curto essa seria umas das coisas que eu faria diferente.

Perderia menos tempo me achando feia e teria tirado todas aquelas fotos que ele queria. E teria apresentado ele a minha família desde o começo. E teria tirado mais mil fotos daquele sorriso. E teria filmado cada momento para hoje poder rever. Teria gravado sua voz me chamando de Marxella e falando com voz de bebê. Teria pedido que ficasse comigo aquela noite de quinta-feira.

Filho, umas das coisas que eu aprendi com a ida do seu pai é que não devemos perder tempo de mal humor com as pessoas que amamos porque um dia elas vão morrer e nunca sabemos quando.. Mas esse dia sempre chegará para todos..